terça-feira, 24 de novembro de 2009

O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO









Um novo jeito de escrever 


Acordo vem para unificar a ortografia oficial dos países de língua portuguesa e aproximar nações (por Mariana Sgarioni)


“A adopção de uma única ortografia entre países de língua portuguesa pode ser óptima.” Se este texto fosse escrito em Portugal, a frase anterior estaria corretíssima. Já no Brasil, a letra p (nas palavras adopção e óptima) está sobrando e parece um erro de digitação – apesar de todos sabermos que se trata do mesmo idioma.
Do ponto de vista da ortografia, existem diferenças bastante relevantes na língua portuguesa. E não apenas entre os dois países. Nas outras seis nações que falam e escrevem o português (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste) ocorre o mesmo.
Para acabar com essas diferenças, foi criado, em 1990, um acordo ortográfico – que entrou em vigor a partir de 1º de janeiro de 2009. “A existência de duas grafias oficiais acarreta problemas na redação de documentos em tratados internacionais e na publicação de obras de interesse público”, defendia o filólogo Antônio Houaiss, o principal responsável pelo processo de unificação no Brasil.
Originalmente, o combinado era que todos os membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) deveriam ratificar o acordo para que ele tivesse valor. Em 2004, porém, os chefes de Estado da CPLP decidiram que bastava a aprovação de três nações para a reforma ortográfica entrar em vigor. O Brasil, no entanto, definiu que mudaria o jeito de escrever somente se Portugal também o fizesse (e o “sim” de Lisboa às novas normas, enfim, foi dado). É importante ressaltar que a pronúncia, o vocabulário e a sintaxe permanecem exatamente como estão. A novidade é a unificação da grafia de algumas palavras.


LÍNGUA INTERNACIONAL
Daqui para frente, a língua portuguesa (comum aos países lusófonos) tem tudo para ganhar espaço – até mesmo em fóruns internacionais -, pois o intercâmbio e informações e texto ficará mais fácil. Unificar a grafia também visa aproximar as oito nações da CPLP, reduzir custos de produção e adaptação de livros e facilitar a difusão bibliográfica de novas tecnologias, bem como simplificar algumas regras (que suscitam dúvidas até entre especialistas).
Do ponto de vista prático, ganha força o idioma falado no Brasil. Isso porque os portugueses terão de promover mais mudanças na escrita que nós, adaptando várias palavras à grafia brasileira. Por exemplo: acção passa a ser ação. E cai também o h inicial de herva e húmido.
O português é a única língua com dois cânones ortográficos, um europeu e outro brasileiro, e isso não só dificulta nossa vida lá fora como também a dos estrangeiros que querem aprendê-lo. “Inscreve-se, finalmente, a língua portuguesa no rol daquelas que conseguiram beneficiar-se há mais tempo da unificação de seu sistema de grafar, numa demonstração de consciência da política do idioma e de maturidade na defesa, na difusão e na ilustração da língua da lusofonia”, afirma Cícero Sandroni, presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL).
Além da unificação da grafia, o acordo propõe simplificar o idioma, no mesmo espírito do que ocorreu na década de 1910, quando uma reforma semelhante alterou o modo de escrever palavras como pharmacia e christallino (para farmácia e cristalino, sem o ph, o ch e o ll). Na época, porém, as mudanças foram encabeçadas por Portugal, que não consultou o Brasil e acabou aprofundando algumas diferenças ortográficas.

TEMPO DE ADAPTÇÃO

Aqui no Brasil, a última grande reforma do idioma foi realizada em 1971, a fim de aproximar mais nosso jeito de escrever do de Portugal. Desde então foi abolido o acento diferencial em alguns vocábulos, bem como o acento grave ou circunflexo nas palavras derivadas de outras acentuadas – mais de dois terços dos acentos que causavam divergências foram suprimidos. Nessa mesma época os substantivos acordo e governo viraram acordo e governo (perderam o circunflexo que os diferenciava das formas verbais eu acordo e eu governo, que eram e continuam sendo pronunciadas de forma diferente). Outras palavras, como somente, propriamente, rapidamente, cortesmente, sozinho, cafezinho e cafezal, também deixaram de ser acentuadas. Naquela ocasião, muitas pessoas estranharam a alteração (sem falar que diversos materiais impressos, como livros, levaram um bom tempo até ter novas edições com o jeito certo de escrever). Até hoje, aliás, ainda há quem escreva ele, como o circunflexo extinto no início dos anos 1970.




 O QUE MUDA?

Alfabeto


Inclusão de três letras.

Passa a ter 26 letras, ao incorporar as letras “k“, “w” e “y“.



Acentuação dos ditongos das palavras paroxítonas

Some o acento dos ditongos (quando há duas vogais na mesma sílaba) abertos éi e ói das palavras paroxítonas (as que têm a penúltima sílaba mais forte):

idéia                  ideia

bóia                  boia

asteróide          asteroide

Coréia              Coreia

platéia               plateia

assembléia        assembleia

heróico             heroico

estréia              estreia

paranóia           paranoia

Européia          Europeia

apóio               apoio

jibóia               jiboia

jóia                 joia



ATENÇÃO! As palavras oxítonas como herói, papéis, troféu mantêm o acento.


Acento circunflexo em letras dobradas

Desaparece o acento circunflexo das palavras terminadas em êem e ôo (ou ôos):

crêem                      creem 

lêem                         leem

dêem                       deem

vêem                       veem

prevêem                  preveem

enjôo                      enjoo

vôos                       voos


Acento agudo de algumas palavras paroxítonas

Some o acento no i e no u fortes depois de ditongos (junção de duas vogais), em palavras paroxítonas:

baiúca             baiuca

bocaiúva         bocaiuva

feiúra              feiura


ATENÇÃO! Se o i e o u estiverem na última sílaba, o acento continua como em: tuiuiú ou Piauí.


Acento diferencial

Some o acento diferencial (aquele utilizado para distinguir timbres vocálicos):

pêlo               pelo

pára              para

pólo              polo

pêra             pera

côa              coa

ATENÇÃO! Não some o acento diferencial em pôr (verbo) / por (preposição) e pôde (pretérito) / pode (presente). Fôrma, para diferenciar de forma, pode receber acento circunflexo.



Acento agudo no u forte

Desaparece o acento agudo no u forte nos grupos gue, gui, que, qui, de verbos como averiguar, apaziguar, arguir, redarguir, enxaguar:

averigúe                averigue

apazigúe               apazigue

ele argúi                ele argui

enxagúe você       enxague você



ATENÇÃO! As demais regras de acentuação permanecem as mesmas.


Hífen

Eliminação do hífen em alguns casos.

O hífen não será mais utilizado nos seguintes casos:

1. Quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente:

extra-escolar         extraescolar

aero-espacial        aeroespacial

auto-estrada         autoestrada

2. Quando o segundo elemento começa com s ou r, devendo estas consoantes serem duplicadas:

Anti-religioso         antirreligioso

anti-semita             antissemita

contra-regra          contrarregra

infra-som               infrassom



ATENÇÃO! O hífen será mantido quando o prefixo terminar em r-

Exemplos: hiper-requintado, inter-resistente, super-revista.


Trema

Extinção do trema.

Desaparece em todas as palavras:

freqüente          frequente

lingüiça             linguiça

seqüestro         sequestro


ATENÇÃO! O trema permanece em nomes próprios como Müller ou Citröen.


BIBLIOGRAFIA:

http://www.reformaortografica.com/


http://www.atica.com.br/novaortografia/index_.htm







3 comentários:

  1. Excelente tema. A mudança ortográfica sempre gera dúvidas e cada pesquisa dessas é realmente de grande valia para nos adaptarmos cada vez mais à nossa própria língua e, daqui pra frente, isso será mais útil do que nunca !!!!!

    Parabéns !!!

    Teacher !!!!!!

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  2. "E cai também o h inicial de herva e húmido." Cheguei aqui e parei de ler. Até estava impressionada com a leitura, porque em termos de sintaxe nem estava assim tão diferente do PT de Portugal. Bem escrito, sim senhora, estava eu a pensar. Só que... em Portugal nunca se escreveu "herva" nem nunca se irá deixar de escrever "húmido". É erva e húmido como sempre foi. Contudo, recepção e infecção passam a receção e infeção (e outras tantas que tais). Bom para a unificação, não?

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  3. Pois! O agá da erva portuguesa vai para cem anos que mirrou com herbicida.
    Cumpts.

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