Acordo vem para unificar a ortografia oficial dos países de língua portuguesa e aproximar nações (por Mariana Sgarioni)
“A adopção de uma única ortografia entre países de língua portuguesa pode ser óptima.” Se este texto fosse escrito em Portugal, a frase anterior estaria corretíssima. Já no Brasil, a letra p (nas palavras adopção e óptima) está sobrando e parece um erro de digitação – apesar de todos sabermos que se trata do mesmo idioma.
Do ponto de vista da ortografia, existem diferenças bastante relevantes na língua portuguesa. E não apenas entre os dois países. Nas outras seis nações que falam e escrevem o português (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste) ocorre o mesmo.
Para acabar com essas diferenças, foi criado, em 1990, um acordo ortográfico – que entrou em vigor a partir de 1º de janeiro de 2009. “A existência de duas grafias oficiais acarreta problemas na redação de documentos em tratados internacionais e na publicação de obras de interesse público”, defendia o filólogo Antônio Houaiss, o principal responsável pelo processo de unificação no Brasil.
Originalmente, o combinado era que todos os membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) deveriam ratificar o acordo para que ele tivesse valor. Em 2004, porém, os chefes de Estado da CPLP decidiram que bastava a aprovação de três nações para a reforma ortográfica entrar em vigor. O Brasil, no entanto, definiu que mudaria o jeito de escrever somente se Portugal também o fizesse (e o “sim” de Lisboa às novas normas, enfim, foi dado). É importante ressaltar que a pronúncia, o vocabulário e a sintaxe permanecem exatamente como estão. A novidade é a unificação da grafia de algumas palavras.
LÍNGUA INTERNACIONAL
Daqui para frente, a língua portuguesa (comum aos países lusófonos) tem tudo para ganhar espaço – até mesmo em fóruns internacionais -, pois o intercâmbio e informações e texto ficará mais fácil. Unificar a grafia também visa aproximar as oito nações da CPLP, reduzir custos de produção e adaptação de livros e facilitar a difusão bibliográfica de novas tecnologias, bem como simplificar algumas regras (que suscitam dúvidas até entre especialistas).
Daqui para frente, a língua portuguesa (comum aos países lusófonos) tem tudo para ganhar espaço – até mesmo em fóruns internacionais -, pois o intercâmbio e informações e texto ficará mais fácil. Unificar a grafia também visa aproximar as oito nações da CPLP, reduzir custos de produção e adaptação de livros e facilitar a difusão bibliográfica de novas tecnologias, bem como simplificar algumas regras (que suscitam dúvidas até entre especialistas).
Do ponto de vista prático, ganha força o idioma falado no Brasil. Isso porque os portugueses terão de promover mais mudanças na escrita que nós, adaptando várias palavras à grafia brasileira. Por exemplo: acção passa a ser ação. E cai também o h inicial de herva e húmido.
O português é a única língua com dois cânones ortográficos, um europeu e outro brasileiro, e isso não só dificulta nossa vida lá fora como também a dos estrangeiros que querem aprendê-lo. “Inscreve-se, finalmente, a língua portuguesa no rol daquelas que conseguiram beneficiar-se há mais tempo da unificação de seu sistema de grafar, numa demonstração de consciência da política do idioma e de maturidade na defesa, na difusão e na ilustração da língua da lusofonia”, afirma Cícero Sandroni, presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL).
Além da unificação da grafia, o acordo propõe simplificar o idioma, no mesmo espírito do que ocorreu na década de 1910, quando uma reforma semelhante alterou o modo de escrever palavras como pharmacia e christallino (para farmácia e cristalino, sem o ph, o ch e o ll). Na época, porém, as mudanças foram encabeçadas por Portugal, que não consultou o Brasil e acabou aprofundando algumas diferenças ortográficas.
TEMPO DE ADAPTÇÃO
Aqui no Brasil, a última grande reforma do idioma foi realizada em 1971, a fim de aproximar mais nosso jeito de escrever do de Portugal. Desde então foi abolido o acento diferencial em alguns vocábulos, bem como o acento grave ou circunflexo nas palavras derivadas de outras acentuadas – mais de dois terços dos acentos que causavam divergências foram suprimidos. Nessa mesma época os substantivos acordo e governo viraram acordo e governo (perderam o circunflexo que os diferenciava das formas verbais eu acordo e eu governo, que eram e continuam sendo pronunciadas de forma diferente). Outras palavras, como somente, propriamente, rapidamente, cortesmente, sozinho, cafezinho e cafezal, também deixaram de ser acentuadas. Naquela ocasião, muitas pessoas estranharam a alteração (sem falar que diversos materiais impressos, como livros, levaram um bom tempo até ter novas edições com o jeito certo de escrever). Até hoje, aliás, ainda há quem escreva ele, como o circunflexo extinto no início dos anos 1970.
O QUE MUDA?
Alfabeto
Inclusão de três letras.
Passa a ter 26 letras, ao incorporar as letras “k“, “w” e “y“.
Acentuação dos ditongos das palavras paroxítonas
Some o acento dos ditongos (quando há duas vogais na mesma sílaba) abertos éi e ói das palavras paroxítonas (as que têm a penúltima sílaba mais forte):
idéia ideia
bóia boia
asteróide asteroide
Coréia Coreia
platéia plateia
assembléia assembleia
heróico heroico
estréia estreia
paranóia paranoia
Européia Europeia
apóio apoio
jibóia jiboia
jóia joia
ATENÇÃO! As palavras oxítonas como herói, papéis, troféu mantêm o acento.
Acento circunflexo em letras dobradas
Desaparece o acento circunflexo das palavras terminadas em êem e ôo (ou ôos):
crêem creem
lêem leem
dêem deem
vêem veem
prevêem preveem
enjôo enjoo
vôos voos
Acento agudo de algumas palavras paroxítonas
Some o acento no i e no u fortes depois de ditongos (junção de duas vogais), em palavras paroxítonas:
baiúca baiuca
bocaiúva bocaiuva
feiúra feiura
ATENÇÃO! Se o i e o u estiverem na última sílaba, o acento continua como em: tuiuiú ou Piauí.
Acento diferencial
Some o acento diferencial (aquele utilizado para distinguir timbres vocálicos):
pêlo pelo
pára para
pólo polo
pêra pera
côa coa
ATENÇÃO! Não some o acento diferencial em pôr (verbo) / por (preposição) e pôde (pretérito) / pode (presente). Fôrma, para diferenciar de forma, pode receber acento circunflexo.
Acento agudo no u forte
Desaparece o acento agudo no u forte nos grupos gue, gui, que, qui, de verbos como averiguar, apaziguar, arguir, redarguir, enxaguar:
averigúe averigue
apazigúe apazigue
ele argúi ele argui
enxagúe você enxague você
ATENÇÃO! As demais regras de acentuação permanecem as mesmas.
Hífen
Eliminação do hífen em alguns casos.
O hífen não será mais utilizado nos seguintes casos:
1. Quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente:
extra-escolar extraescolar
aero-espacial aeroespacial
auto-estrada autoestrada
2. Quando o segundo elemento começa com s ou r, devendo estas consoantes serem duplicadas:
Anti-religioso antirreligioso
anti-semita antissemita
contra-regra contrarregra
infra-som infrassom
ATENÇÃO! O hífen será mantido quando o prefixo terminar em r-
Exemplos: hiper-requintado, inter-resistente, super-revista.
Trema
Extinção do trema.
Desaparece em todas as palavras:
freqüente frequente
lingüiça linguiça
seqüestro sequestro
ATENÇÃO! O trema permanece em nomes próprios como Müller ou Citröen.
BIBLIOGRAFIA:
http://www.reformaortografica.com/
http://www.atica.com.br/novaortografia/index_.htm
Some o acento dos ditongos (quando há duas vogais na mesma sílaba) abertos éi e ói das palavras paroxítonas (as que têm a penúltima sílaba mais forte):
idéia ideia
bóia boia
asteróide asteroide
Coréia Coreia
platéia plateia
assembléia assembleia
heróico heroico
estréia estreia
paranóia paranoia
Européia Europeia
apóio apoio
jibóia jiboia
jóia joia
ATENÇÃO! As palavras oxítonas como herói, papéis, troféu mantêm o acento.
Acento circunflexo em letras dobradas
Desaparece o acento circunflexo das palavras terminadas em êem e ôo (ou ôos):
crêem creem
lêem leem
dêem deem
vêem veem
prevêem preveem
enjôo enjoo
vôos voos
Acento agudo de algumas palavras paroxítonas
Some o acento no i e no u fortes depois de ditongos (junção de duas vogais), em palavras paroxítonas:
baiúca baiuca
bocaiúva bocaiuva
feiúra feiura
ATENÇÃO! Se o i e o u estiverem na última sílaba, o acento continua como em: tuiuiú ou Piauí.
Acento diferencial
Some o acento diferencial (aquele utilizado para distinguir timbres vocálicos):
pêlo pelo
pára para
pólo polo
pêra pera
côa coa
ATENÇÃO! Não some o acento diferencial em pôr (verbo) / por (preposição) e pôde (pretérito) / pode (presente). Fôrma, para diferenciar de forma, pode receber acento circunflexo.
Acento agudo no u forte
Desaparece o acento agudo no u forte nos grupos gue, gui, que, qui, de verbos como averiguar, apaziguar, arguir, redarguir, enxaguar:
averigúe averigue
apazigúe apazigue
ele argúi ele argui
enxagúe você enxague você
ATENÇÃO! As demais regras de acentuação permanecem as mesmas.
Hífen
Eliminação do hífen em alguns casos.
O hífen não será mais utilizado nos seguintes casos:
1. Quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente:
extra-escolar extraescolar
aero-espacial aeroespacial
auto-estrada autoestrada
2. Quando o segundo elemento começa com s ou r, devendo estas consoantes serem duplicadas:
Anti-religioso antirreligioso
anti-semita antissemita
contra-regra contrarregra
infra-som infrassom
ATENÇÃO! O hífen será mantido quando o prefixo terminar em r-
Exemplos: hiper-requintado, inter-resistente, super-revista.
Trema
Extinção do trema.
Desaparece em todas as palavras:
freqüente frequente
lingüiça linguiça
seqüestro sequestro
ATENÇÃO! O trema permanece em nomes próprios como Müller ou Citröen.
BIBLIOGRAFIA:
http://www.reformaortografica.com/
http://www.atica.com.br/novaortografia/index_.htm
Excelente tema. A mudança ortográfica sempre gera dúvidas e cada pesquisa dessas é realmente de grande valia para nos adaptarmos cada vez mais à nossa própria língua e, daqui pra frente, isso será mais útil do que nunca !!!!!
ResponderExcluirParabéns !!!
Teacher !!!!!!
"E cai também o h inicial de herva e húmido." Cheguei aqui e parei de ler. Até estava impressionada com a leitura, porque em termos de sintaxe nem estava assim tão diferente do PT de Portugal. Bem escrito, sim senhora, estava eu a pensar. Só que... em Portugal nunca se escreveu "herva" nem nunca se irá deixar de escrever "húmido". É erva e húmido como sempre foi. Contudo, recepção e infecção passam a receção e infeção (e outras tantas que tais). Bom para a unificação, não?
ResponderExcluirPois! O agá da erva portuguesa vai para cem anos que mirrou com herbicida.
ResponderExcluirCumpts.